Olho no campo e paciência contradizem "boca seca" do tranquilo Tite em estreia pelo Flamengo - Globo.com

"Boca seca, perna tremendo, ansiedade. Humanamente, todos esses sentimentos eu continuo tendo".

Tite assim respondeu quando perguntado sobre a volta aos campos após seis anos de Seleção e meses sabáticos. Se sentiu isso na estreia vitoriosa pelo Flamengo, seus gestos o contradisseram na vitória por 2 a 0 sobre o Cruzeiro.

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Tranquilo e calmo, o Flamengo que sobrou no Mineirão entre a parte final do primeiro tempo ao apito final do gaúcho de Tite Rafael Rodrigo Klein foi frio e soube sofrer, como disse Fabrício Bruno. Um fiel retrato do que foi seu treinador à beira do campo.

Se o intranquilo Flamengo de Jorge Sampaoli era marcado por tensões dentro e fora do gramado, o de Tite teve paciência para identificar o momento de definição do jogo. O treinador, por exemplo, elegeu seu cantinho preferido: ficou a maior parte do tempo na quina da área técnica localizada à direita do banco de reservas destinado ao Rubro-Negro no Mineirão.

Tite ficou a maior parte do tempo no cantinho direito da área técnica — Foto: Fred Gomes / ge

Ora de mãos para trás na linha da cintura ou de braços cruzados, o treinador não tirava os olhos do campo. Se tem o hábito de caminhar pela Praia da Barra em suas manhãs, a área técnica não foi encarada como calçadão ou ciclovia.

Comunicação também não faltou. Conversou muito com Ayrton Lucas, que, com a agressividade que o transformou em um dos destaques do Flamengo no início de 2023, voltou jogar bem e reassumiu o papel de figura importante.

Mas não apenas Ayrton foi chamado para papos ao pé da orelha pelo nada intranquilo Tite. Praticamente todos os rubro-negros em campo teriam seu momento exclusivo com Tite, inclusive os quatro que entrariam no segundo tempo. Olho no olho foi uma constante.

Enquanto Rossi esfriava o Cruzeiro no momento de maior desconforto do Flamengo, Tite gesticulava bastante com Everton Cebolinha, Gabigol e Arrascaeta, que substituiriam Bruno Henrique, Pedro e Éverton Ribeiro.

Antes, aliás, ficara um bom tempo com Pablo, chamado às pressas para substituir David Luiz no início da etapa. Diálogo não faltou.

Comunicação sobrou na entrevista coletiva. Tite, discreto em suas comemorações e na interação com a torcida rubro-negra, expressou-se com sorrisos, gestos e voz firme no momento de enfatizar o que defendera.

Sobrou na hora de oferecer mais perguntas aos repórteres presentes à entrevista coletiva. E também quando fechou os olhos para lembrar da época de jogador ao ser convidado a lembrar gol contra o Vasco, marcado em 1986 após superar série de lesões com a camisa do Guarani.

Sorriu e levantou a voz ao falar em "ficar feliz sem medo de ser feliz" e ao pedir respeito a Ronaldo, Elias e Zé Ricardo.

E dividiu. Primeiramente afirmou que a vitória passava pelas informações passadas pelos gerentes Juan e Fabinho no momento em que estudavam o Flamengo. Depois tratou de elogiar os auxiliares Matheus Bachi, Cléber Xavier e César Sampaio.

Compartilhou a vitória também com Mário Jorge. Embora tenha mostrado capacidade de decidir com o olhar, afirmou que o resultado também fazia parte de uma continuidade ao que o interino realizara nas últimas semanas.

Tite pode ter sofrido de ansiedade, pernas trêmulas e boca seca, mas o Flamengo de Tite não. Foi paciente e calculista para definir nos mínimos detalhes. Não tremeu quando ameaçado e nem foi seco nos momentos menos criativos. O Rubro-Negro voltou a ter cor num momento em que estava condenado à sombra e permitiu ao torcedor voltar a beber de um fonte que sempre o caracterizou: a fé de acreditar em grandes jornadas mesmo quando tudo parece perdido.

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