São Paulo, Brasil
Um líquido indefinido foi atirado nas suas costas e escorreu pelo corpo quando ele se levantou do banco de reservas.
Envergonhado, o técnico garante que não foi cerveja. Não confirma ter sido urina.
Depois de molhado, com o líquido impregnando seu corpo, preferiu acompanhar o jogo sentado, mudando suas características de pular, incentivar, cobrar, "jogar com o time".
Ouviu os gritos de "mercenário" durante 90 minutos.
Torcedores mostrando dinheiro ao treinador.
Apoiar o time no importante jogo contra o lanterna Vila Nova ficou em segundo plano.
O 0 a 0 foi péssimo. Os 3 pontos eram obrigatórios.
Os milhares de torcedores que estavam na Ilha do Retiro queriam se vingar da traição de Lisca.
Todo o carinho da torcida pernambucana virou ódio, ressentimento.
O mesmo técnico que chegou fazendo juras de amor, falando em volta à Série A, e que assumiu o time contra o Vasco há 19 dias já tinha acertado sua ida para o Santos. E estava se despedindo.
De acordo com a imprensa pernambucana e a santista, Lisca Doido acertou sua ida para o Santos ainda na segunda-feira à noite, conversando direto com o presidente do clube, Andrés Rueda.
Vai trocar os R$ 200 mil que recebia no Sport por R$ 300 mil no Santos. Sem multa rescisória, insistiu a cúpula do time paulista, que deve mais de R$ 400 milhões.
Lisca não teve coragem, ontem, após o melancólico 0 a 0 com o último colocado da Série B, de repetir que seguiria no Sport até o fim da temporada, como havia deixado claro quando assumiu o clube. Atitude constrangedora.
“Eu não garanti nada. Vocês [jornalistas] estão colocando palavra na minha boca, e eu não garanti nada", repetia.
Jorge Andrade, executivo do Sport, se recusou a responder a qualquer pergunta ontem. Ele estava visivelmente irritado, ciente de que Lisca já se acertara com o Santos.
"Respeito demais a torcida do Sport. Estava de novo aqui, casa cheia, vibrando. Vaiou quando tinha que vaiar, está insatisfeita com o time. E até ficou bom porque ficou em cima de mim e não dos jogadores, que tiveram tranquilidade para jogar. Infelizmente, a torcida se voltou contra mim no meio do jogo. Vou respeitar esse comportamento, praticamente me demitindo do clube. Hoje eu fui demitido pela torcida do Sport."
A imprensa pernambucana ficou ainda mais irada ao ver que Lisca Doido estava jogando a culpa pela sua saída na torcida, que o teria "demitido".
O certo é que, em 22 anos de carreira, Luiz Carlos Cirne Lima de Lorenzi trocou 22 vezes de clube. Tem como título mais significativo o da Segunda Divisão do Rio Grande do Sul, com o Porto Alegre, em 2009.
Só trabalhou em dois gigantes do futebol brasileiro. O Internacional, em outubro de 2016, em uma tentativa desesperada de evitar o rebaixamento para a Série B. Fracassou.
Assumiu o Vasco em julho do ano passado. Ficou apenas até setembro. Dois meses de péssimo desempenho do time.
Ficou quase um ano desempregado, até que no fim do mês passado acertou com o Sport.
E agora, quatro partidas depois, fecha com o Santos.
Aliás, o clube da Vila Belmiro só chegou a Lisca Doido depois de ter sido recusado por Jorge Sampaoli, Renato Gaúcho, Abel Braga, Odair Hellmann. Todos sabem muito bem que não há dinheiro para montar um bom time. E que o sonho do bicampeão mundial é não ser rebaixado no Campeonato Brasileiro.
Foi para isso que Lisca Doido foi contratado.
O Comitê Gestor descartou Guto Pereira, outro candidato "barato" e que aceitaria ficar até o fim da temporada, sem multa rescisória.
O técnico do Sport não teria pensado duas vezes ao receber a proposta.
Quando a diretoria do clube pernambucano soube ontem da sua decisão de sair, conselheiros vazaram para a imprensa a situação.
Foi por isso que os torcedores na Ilha do Retiro se revoltaram.
"Falei ao meu empresário: 'Tem um clube que, se aparecer oportunidade, vou atender’. Vim correndo quando me ligaram. Nem considero um convite: foi uma convocação. Acompanho o Sport há muitos anos e fico mais motivado em participar da reconstrução do clube", jurou Lisca Doido no dia 30 de junho.
Mas assim é o mercado de treinadores no Brasil.
Por unanimidade, os clubes derrubaram no Campeonato Nacional de 2022 a lei que limitava a apenas uma a troca de técnico. Em 2021, já foi um festival de hipocrisia, com inúmeras demissões assumidas como "comum acordo", o que abria brecha para quantas trocas quisessem.
A postura de Lisca Doido é deprimente.
Mas de acordo com a dos dirigentes que demitem treinadores sem o menor constrangimento, sem planejamento, sem compromisso com uma filosofia de trabalho.
Seria interessante Lisca Doido tentar descobrir como o argentino Fabián Bustos foi mandado embora. Depois de ouvir dezenas de vezes a promessa de reforço do fraco elenco santista.
E que chegará à Vila Belmiro com apenas uma missão.
A de evitar o rebaixamento.
Sem o menor compromisso de que ficará na Vila Belmiro em 2023.
Mas Lisca Doido parece entender muito bem como é a relação entre técnicos e dirigentes no Brasil.
A falta de respeito, de comprometimento, é mútua...
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