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Thursday, July 29, 2021

Prata de Rebeca Andrade na ginástica artística vem com superação pessoal e redenção do país - BBC Brasil

Rebeca Andrade foi prata em Tóquio 2021

Crédito, Reuters

Rebeca Andrade conquistou a primeira medalha olímpica feminina da história da ginástica artística do Brasil, com a prata no individual geral em Tóquio 2021 nesta quinta-feira (29/07).

Apesar de o Brasil ter uma tradição forte na ginástica artística — com a conquista de diversas medalhas de ouro em campeonatos mundiais e participação em finais olímpicas, além de dominar o esporte na América do Sul — o país jamais havia conquistado uma medalha feminina em Olimpíadas.

Esta é a terceira prata da ginástica olímpica brasileira, que no total conquistou cinco medalhas (um ouro, três pratas e um bronze).

A final olímpica do individual geral da ginástica artística feminina deste ano foi marcada pela desistência na véspera de Simone Biles, a superestrela americana do esporte, que disse querer priorizar sua saúde mental. Biles assistiu às apresentações, apoiando suas compatriotas e ginastas de outros países que disputavam a final.

Rebeca Andrade começou a primeira prova com o melhor dos saltos entre todas as competidoras. Nas barras assimétricas, a americana Sunisa Lee teve a melhor performance e encostou em Rebeca no placar.

Em seguida, nas traves, Rebeca Andrade perdeu a liderança. No entanto, a brasileira conseguiu uma revisão da sua nota para cima, após entrar com um recurso pedindo avaliação do árbitro de vídeo.

Na última prova, a apresentação no solo, Rebeca precisava de 13.802 pontos, mas obteve 13.666. Ao som de "Baile de Favela", ela fez uma rotina com alta dificuldade, mas aterrissou duas vezes fora do espaço. O placar final foi: Sunisa Lee (43,733) pontos, Rebeca Andrade (43,632) e a russa Vladislava Urazova (43,566).

Rebeca Andrade

Crédito, Reuters

Enquanto outras ginastas recebiam apoio de diversas outras atletas compatriotas — a maioria das ginastas pertenciam a equipes maiores que estão competindo — a brasileira comemorou a prata apenas com seus treinadores. Rebeca Andrade e a carioca Flavia Andrade são as únicas mulheres ginastas do Brasil em Tóquio 2021.

Natural de Guarulhos (SP), Rebeca Andrade, de 22 anos, tem uma história pessoal de superação.

Ela enfrentou diversas lesões para chegar às Olimpíadas, passou por três cirurgias no joelho e chegou a pensar em desistir da ginástica.

Em 2015, ela ela rompeu o ligamento cruzado do joelho direito em 2015, algo que se repetiu em 2017. Em 2019, ela operou o joelho direito pela terceira vez. Naquela ocasião, faltava apenas um ano para os Jogos — que ainda não haviam sido adiados — e Rebeca ainda não havia obtido classificação.

Em uma competição olímpica marcada pela discussão aberta sobre saúde mental, assunto trazido à tona pela estrela Simone Biles, Rebeca também teve seus momentos desafiadores. Ela diz que recebeu muito apoio da sua mãe e do treinador Francisco Porath para superar os momentos de dificuldade, inclusive tendo que morar no Rio de Janeiro, longe da família.

Desde os 13 anos de idade, ela recebe apoio de uma psicóloga — que Rebeca diz ter sido fundamental na sua trajetória. Além da solidão, enfrentou a ansiedade com os problemas físicos que poderiam ter encerrado sua carreira.

'Caí de bunda, caí de cara'

A prata de Rebeca Andrade foi uma redenção para a atleta — mas também para a ginástica artística brasileira, que tem um histórico de dificuldades em Olimpíadas, com diversos atletas chegando a finais com boas condições de medalhas, mas sem conseguir ir ao pódio.

Essa história é bem sintetizada em uma frase do ginasta Diego Hypólito, em 2014: "Já caí de bunda em Pequim, caí de cara em Londres, agora vou cair de pé para o pódio no Rio". Em 2008, ele era favorito ao ouro, mas caiu na sua apresentação no solo e terminou em sexto. Em Londres 2012, voltou a cair e perder a chance de medalha.

A redenção olímpica veio como ele havia previsto diante da sua própria torcida, quando foi ovacionado. Hypólito acabou conquistando a medalha de prata no individual geral nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, que também teve outro brasileiro — Arthur Nory — no pódio, com bronze.

O Brasil só veio conquistar sua primeira medalha olímpica na ginástica na história em 2012, com Arthur Zanetti, nas argolas. Zanetti levou a prata na Rio 2016 e é um dos brasileiros cotados para conquistar uma medalha em Tóquio 2021.

Daiane dos Santos

Uma das grandes torcedoras de Rebeca Andrade hoje é Daiane dos Santos, um dos maiores nomes do esporte no Brasil e cujo movimento duplo twist carpado é batizado com seu sobrenome.

"A primeira medalha (feminina de ginástica) do Brasil em um mundial foi negra e a primeira medalha Olímpica é negra. Isso é muito forte. Durante muito tempo as pessoas diziam que não poderia ter uma ginasta negra. Que as pessoas negras não poderiam praticar certos esportes. E a gente vê hoje a primeira medalha para uma menina negra. Tem uma representatividade muito grande atrás de tudo isso", disse Daiane sobre suas conquistas e sobre a conquista de Rebeca, durante transmissão da prova pela TV Globo, na qual ela participava como comentarista.

Daiane foi a primeira mulher brasileira campeã mundial de ginástica artística, em 2003 nos EUA. Ela participou de três Olimpíadas (Atenas 2004, Pequim 2008 e Londres 2012) e foi para a final em duas delas.

Seu melhor resultado foi o quinto lugar no solo em Atenas 2004, quando se apresentou ao som do "Brasileirinho". A rotina e a música haviam dado a Daiane seu título mundial no ano anterior em Annaheim. Recém operada no joelho, ela não conseguiu subir ao pódio naquele ano, mas sua apresentação é lembrada como um dos momentos mais marcantes da ginástica artística brasileira e que inspirou muitas jovens a seguir o mesmo caminho. O ouro ficou com a romena Catalina Ponor.

Mesmo sem medalhas olímpicas, Daiane dos Santos teve uma impressionante trajetória na ginástica artística, conquistando nove ouros em copas do mundo, além de inúmeras medalhas em pan-americanos e torneios sul-americanos.

Outro momento marcante da ginástica artística feminina brasileira foi em Pequim 2008, quando a equipe chegou à sua primeira final olímpica na história.

No entanto, a equipe formada por Ana Cláudia Silva, Daiane dos Santos, Daniele Hypolito, Ethiene Franco, Jade Barbosa e Laís Souza terminou em oitavo lugar — a última posição da final, que foi vencida pela equipe da casa.

Na Rio 2016, o Brasil voltou a se classificar para a final feminina de equipes diante da sua própria torcida, mas repetiu o resultado de Pequim 2008: oitavo lugar. A medalha nesta ocasião acabou com os EUA, liderados por Simone Biles.

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